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Capítulo 6 - Roleta-Russa

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Mensagem por Isadora Romazzini Sex Jan 08, 2016 11:33 am

Sicilia era um lugar belissimo, mas Siracusa parecia uma terra divina. Suas praias eram calmas, sem ondas e a água deliciosa para qualque época do ano. A areia era branquinha, fofa e as pegadas pareciam ainda mais charmosas por cima dela.

Capítulo 6 - Roleta-Russa Vendicari493

A casa de veraneio dos Romazzini era o lugar favorito de Chiara por um razão: a vista era perfeita para qualquer tipo de reflexão.

Isadora conseguia entender a mãe.

Era curioso como ela passou tantos anos tendo pavor do mar e se cubos d'água, mas eles sempre a recebiam como um saudoso amigo quando ela precisava ficar sozinha. E não era diferente naquela manhã.

Os passos da jovem a levaram até aquela praia sem ondas que servia como um verdadeiro quintal para a casa.

O sol ainda era timido, iniciando um novo dia. Não que o anterior dela tivesse acabado. Os olhos inchados e as olheiras dela demonstravam que ela não tinha dormido ou pensado nisso nem por um segundo. Estava usando um vestido leve branco, bem forrado, mas que à primeira vista parecia uma saída de praia.

Parou rente à quebra do mar e um arrepio percorreu por seu corpo quando a água tocou. Não por ser fria, mas porque gerava lembranças. E lembranças...E mais lembranças.

Não conseguiu se mexer mais. Caiu de joelhos no chão, sentindo os joelhos e coxas serem molhados pela pouca espuma e escondeu o rosto com as duas mãos. Desabou, como desejava e não conseguia parar de chorar.

E se odiava ainda mais por isso.

Até quando ela continuaria sendo a menina chorona que todos achavam que todos achavam fácil enganar, trair, partir o coração?

--

Antonella estava observando os passos de Isadora da varanda de casa. Tinha deixado os seguranças de sobre-aviso assim que a viu saindo de casa, mas pediu para que fossem discretos, para que a menina pudesse acreditar em sua privacidade.

A tia também não tinha dormido naquela noite. A conversa foi intensa e tinha partido o coração de ambas.

Isadora ainda estava incontrolável, preocupada com Romeo. Só tiveram tempo para chegar em casa antes que ela revelasse a notícia para Enzo e Isa.

- Precisamos conversar...

Disse seriamente aos dois. Enzo e Isadora se encararam. Foi permitido que Giulia e seus pais se recolhessem. Mas o núcleo da mansão seguiu até uma sala mais ampla, onde os funcionários também estavam, para ouvir aquela notícia.

- O Don De Lucca aceitou uma tréga com a Famiglia Agostini.

Essa foi a primeira surpresa que deixou todos espantados.

- Eles vão somar esforços para que consigam eliminar, de uma vez por todas o misterioso inimigo que vem assombrando nossa família.
Isadora imaginava se a tia tinha achado aquilo bom, mas a tia continuava com uma expressão bastante pesad.a

- Isso não trará Pietro de volta, porque o Don foi bastante claro quando decidiu afastá-lo da familia. Mas segundo Lorenzo, Agostini demonstrou que realmente está disposto a nos ajudar porque anulou a missão Romazzini.

Houve um burburinho na sala. Isadora estava sentindo o sangue correndo mais rápido pelas veias. Piscou algumas vezes e Enzo perguntou.

- Missão Romazzini?

- Um espião.

Antonella umedeceu os lábios.

- Romeo Campanaro.

Todos perderam o fôlego e começaram a falar ao mesmo tempo.

- O QUE?! Não é possível!!

Isadora continuava imóvel, encarando a tia com aquele choque de quem não acredita de primeira, ainda mais depois de ouvir tantas mentiras.

- É mentira. - Disse num tom cortando.

- Não é, Isadora. - Antonella meneou negativamente. - Agostini falou para o seu pai. Romeo é filho de Agostini e estava infiltrado nessa casa para roubar nossas informações e destruir nossa família de dentro pra fora.

Antonella engoliu em seco. Enzo estava com uma expressão de profundo ódio e desgosto.

- Ele está morto? - Perguntou num tom cortante.

- Não! - Antonella respondeu no mesmo instante. - Fez parte do acordo mantê-lo vivo. Ele não estará mais em nossa família, mas não pode ser morto enquanto houver paz.

- E quando essa paz terminar, espero que tenha uma bala na testa dele.

Enzo levantou-se.

- Traidor maldito.

Antonella sentiu um calafrio diante daquelas palavras e voltou o olhar para Isadora. A jovem ainda não estava acreditando naquilo.

- Isadora...

- É mentira. Com licença.

Levantou-se rapidamente e subiu até o seu quarot. Antonella fechou os olhos, massageando a têmpora. Logo começou a seguir a moça. Não chegou a bater no quarto, entrando na mesma hora. Isadora já estava ao telefone e tinha dado caixa postal ou desligado de novo.

- O que é?!

Olhou com raiva para a tia.

- Eu não estou dizendo nenhuma mentira, Isadora...Por favor, tente entender.

- Nós duas sabemos quem é a verdadeira traidora dessa família, tia Antonella e não é o Romeo!
Antonella cerrou os olhos e fungou.

- Eu tentei te avisar tantas e tantas vezes, Isadora. Eu implorei para que você parasse com isso! Sabe por que? Antes mesmo dele se rebelar contra mim, eu já sabia para quem ele trabalhava!

- É lógico! Você é amante de Agos..

Antonella tapou a boca de Isadora. As duas se encararam intensamente.

- Eu não vou mais mentir ou omitir nada para você, Isadora. Mas eu não vou permitir que uma garota que não tem a metade da minha vivência se atreva a me julgar. Até porque, você cometeu erros piores ou mais do que eu. Porque nunca, em todos esses anos, eu usei o teto dos meus pais como abrigo para ir para a cama com o Benito.

Isadora cerrou os olhos.

- Você quer ouvir a verdade e tirar suas conclusões sozinhas depois?

A jovem apenas meneou positivamente e a tia a soltou.

- Benito e eu fomos amantes vinte e sete anos atrás. Eu era como você, uma jovem sonhadora, mas também bastante rebelde. Eu me apaixonei por ele no instante que o vi numa das festas que chamamos de neutra. Apenas depois eu soube que era o rosto do líder da familia que a minha odiava. Só que já era tarde demais.

Isadora cruzou os braços, ainda encarando a tia.

- Por dois anos, nós mantivemos uma relação proibida. Eu me entreguei a ele e antigamente era mais fácil esconder essas coisas. Assim como era mais fácil desaparecer. Estavamos tramando para ir embora quando eu descobri que...que eu estava grávida.

Antonella umedeceu os lábios e olhou para a sobrinha. Isadora sentiu um potento soco em sua barriga e engoliu em seco.

- Grávida...?

- Sim. - Antonella suspirou. - Romeo.

- C-co...como assim...? Tia...

- Sua avó descobriu tudo antes que eu pudesse ir embora com Benito. Ela me trancou por seis meses, nas circunstancias mais deploráveis possiveis. Eu tive meu filho e nem pude olhar nos olhos dele. Minha escolha era bem simples...

As lágrimas rolavam pelo rosto dela.

- Eu podia vê-lo morrer e ser livre ou eu podia fazer exatamente o que minha mãe havia tramado e meu filho viveria. Eu só implorei para que fosse aos olhos do pai dele. E minha mãe era uma mulher de palavra, Isadora. Ela teria matado o meu filho na minha frente, se eu tivesse lutado ou resistido. E eu nunca mais soube do meu bebê.

- Por 25 anos...?

Isadora não conseguiu se conter. Passou a mão pelo rosto.

- Sim. Depois que ela morreu, eu pensei em procurar o Benito, mas eu tive medo de toda a rejeição que venho sofrendo desde que a verdade veio à toa. Eu já tinha perdido minha segunda família, não estava pronta para ser rejeitada pelo meu bambino e pelo homem que eu sempre amei. Eu só o reencontrei de novo naquele jantar e...

- E vocês retomaram o romance. E a senhora sabia que Romeo era um espião...E mesmo assim deixou?

- É o meu filho. Se eu contasse a verdade, ele já estaria morto. Eu não quero meu filho morto!

As duas se encararam intensamente, mas logo Isadora começou a cair no choro. Aproximou-se da tia, ajoelhando-se de frente para ela e começou a implorar.

- A senhora só pode estar mentindo...Por favor, diga que é tudo mentira. Eu vou perdoar dessa vez, tia. Por favor...

- Não posso...eu sinto muito, Isa...

- Eu não posso...eu não...tia, por favor...

- Voce verá que não estou mentindo, quando parar para juntar as peças. E eu sei que é apenas questão de tempo até que seu pai descubra também. E aí...ele também me odiará e vai me matar. Mas pelo menos...estará desfeito. Você não tem ideia como estou aliviada por saber que meu filho está em segurança de novo.

Isadora soluçou.

- Ao mesmo tempo, eu estou partida ao meio por ver...Eu tentei te avisar, Isadora...eu tentei...

- Ele jurou, tia...ele jurou olhando nos meus olhos que me amava, independente de qualquer coisa. Por que, tia? Por que as pessoas mentem tanto pra mim??

- Eu sinto muito, Isa...Deus, como eu sinto...

Antonella ajeolhou-se para abraçá-la e tentar ampará-la, mas Isadora estava inconsolável.

Talvez ainda não a odiasse por ter escondido tanta coisa, mas Antonella sabia que era questão de tempo.

Nenhuma das duas dormiu naquela noite, apenas choraram. Antonella deixou Isadora pensar que ela estivesse dormindo, mas acompanhou todos os passos da sobrinha.

Ao acordar, viu que tinha mais de cinquenta ligações pedidas de Benito.

Ela não pretendia retornar nenhuma.

Por maior que fosse o vazio que ela sentia ao tomar aquela decisão.
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Mensagem por Romeo Campanaro Dom Jan 10, 2016 1:06 pm

Em vinte e cinco anos, era a primeira vez que Benito Agostini experimentava na pele as consequências da personalidade difícil de Romeo.

Tudo o que o pai sentia era um profundo alívio por ver seu bambino seguro, bem longe da missão Romazzini, mas Romeo estava furioso pela maneira súbita como tudo terminara. Ele não fora avisado, não pudera fazer nada além de fugir às pressas. Sua mente não parava de pensar na dor e no sofrimento que atingiriam Isadora quando a verdade viesse à tona, sem que ele estivesse por perto para tentar se explicar.

Depois de uma discussão acalorada com o pai, Romeo saiu do escritório batendo a porta com violência. Benito fez menção de seguir os passos dele, mas teve seu caminho interrompido por Cecilio. O primogênito não tinha a menor vocação para os negócios, mas valorizava a família ao ponto de querer evitar uma briga ainda mais grave.

Por outro lado, Vincenzo acompanhara os gritos da sala e exibia um sorriso satisfeito no rosto quando deu de cara com Romeo. Para o caçula, era uma vitória pessoal saber que o pai estava decepcionado com o bastardo.

O objetivo de Vincenzo com a “Missão Romazzini” era tirar Romeo do seu caminho, mas no fim das contas era a própria personalidade de Campanaro que contribuiria positivamente para o sucesso dos planos do caçula dos Agostini.

- Acabei de saber do fracasso da sua missão, Romeo... – um sorrisinho sacana iluminou o rosto de Vincenzo – Que pena. Era a sua única chance.

Os olhos azuis escuros se estreitaram até se transformarem em duas linhas ameaçadoras. Os dedos de Romeo formigaram com a vontade de tocar a arma em sua cintura e extravasar todo o ódio que o consumia enchendo Vincenzo de balas. Mas, no fim das contas, Campanaro se conteve. Principalmente porque sabia que algumas palavras atingiriam mais o meio-irmão do que uma bala na testa.

- Que pena que não é você quem decide isso, não é, Vincenzo? – um sorriso maldoso surgiu nos lábios de Romeo – Eu imagino o quanto será humilhante perder espaço para um irmão bastardo. Mas não perca mais noites de sono. Eu prometo que serei nobre e misericordioso com você quando o papà me escolher como sucessor.

- Isso NUNCA vai acontecer, Romeo!

- Veremos.

Sem esperar por mais respostas, Campanaro seguiu seu caminho sem olhar para trás. Trancado em seu quarto na mansão dos Agostini, tudo o que Romeo mais queria era ligar para Isadora e tentar explicar o inexplicável.

Intimamente o rapaz sabia que não seria perdoado com tanta facilidade, mas tinha a esperança de que Isa ao menos acreditasse nos sentimentos dele. Só isso poderia garantir que Isadora o perdoaria quando finalmente esfriasse a cabeça.

Mas Campanaro sabia que não era o melhor momento. Certamente Isadora estava chegando à casa de veraneio de Siracusa àquela hora e ainda não entendia a dimensão dos últimos acontecimentos. A garota precisava de um tempo para assimilar toda a verdade. E Romeo também precisava de algumas horas para se acalmar. Tudo acontecera tão rápido que a adrenalina ainda circulava no sangue do rapaz numa dose alarmante.

A noite passou sem que Romeo conseguisse pregar os olhos por um minuto sequer. A manhã nasceu, ignorando o desejo do rapaz de que o tempo não passasse. Por mais que quisesse falar com Isadora, Romeo temia o inevitável embate que aconteceria com a moça.

Talvez foi por isso que Campanaro adiou ao máximo aquele momento. Começava a anoitecer quando Romeo finalmente foi mais forte que a própria covardia e pegou o celular. Não era mais o aparelho que ele usava como segurança dos Romazzini, então foi um número até então desconhecido que surgiu na tela do celular de Isadora.

O número era estranho, mas a voz que Isadora escutaria do outro lado da linha não poderia ser mais familiar. Como ela não reconhecia o timbre que lhe sussurrava juras de amor no meio de noites quentes?

- Isadora...

O nome da garota foi pronunciado daquela maneira única que só Romeo sabia fazer.

- Isadora, não desligue! Por favor! Eu só preciso de uma chance para me explicar.
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Mensagem por Isadora Romazzini Dom Jan 10, 2016 3:06 pm

Aquele dia tinha entrado para sua história pessoal como um dos piores dias de sua vida. Obviamente que o trauma de sua infância ainda era o dia negro e não havia nem comparação da perda daquela época para a que ela sofria agora.

No entanto, com exceção daquele ataque, ela nunca tinha sentido tanta dor. Era um verdadeiro acúmulo de decepções que esfregavam na cara da jovem o quão burra e tola ela era. Parecia muito fácil fazer Isadora de trouxa e aquelas verdades só demonstravam que, de fato, era.

Saber que sua família não era um modelo de perfeição doía. Mas a verdade é que nenhuma família é perfeita e os laços sanguineos cedo ou tarde falariam mais alto.

Mas saber que foi enganada por meses, pelo único homem que verdadeira falou era algo irreparável.

Tomou um longo banho depois que voltou da praia.

Já não chorava mais, porque lhe faltavam lágrimas. Os bonitos olhos estavam vermelhos e inchados. Os lábios carnudos também estavam mais avermelhados, assim como a ponta de seu nariz e as bochechas.

Voltou a pensar em todos os sinais que ela tinha ignorado ou nem tinha cogitado. Fora a história que tia Antonella contou.

A cabeça dela parecia que ia explodir!

Tomou um analgesico para a dor de cabeça e dormiu. Antonella não quis incomodá-la e também não insistiu para que ela comesse as refeições. Apenas pediu para que ela tomasse a vitamina, pelo menos. Isadora recusou tudo ou simplesmente ignorou. Precisava dormir, precisava...esquecer.

E conseguiu paz depois de um tempo.

Ate que o celular começou a tocar.

O coração dela disparou, pelo susto e pela ansiedade. Imaginava que veria o nome de Romeo ali.

Mas ao abrir os olhos e ver que não estava em seu quarto, na Sicilia, ela soube que não tinha sido um pesadelo. Tudo era verdade, então, Romeo era a última pessoa que ela desejava conversar.

O numero era estranho, por isso ela atendeu.

- Alo?

A voz saiu meio rouca e mais séria do que o normal.

Os olhos dela se arregalaram ao ouvir a voz de Romeo. Sentiu um nó na garganta, mas engoliu o choro e manteve a postura.

- Guarde suas mentiras para alguém que ainda acredite nelas, Campanaro.

Respondeu num tom de voz cortante, mais sério e imponente do que o da primeira vez que eles tinham brigada antes do treino.

- A sua missão Romazzini acabou. Você não tem mais porque brincar comigo. Não me procure mais. Adeus.

Desligou o celular sem dar atenção às súplicas.

Olhou para o aparelho, sentindo uma raiva crescente e quando percebeu, já tinha tacado o aparelho contra a parede, espatifando-o.

Quando Romeo ligasse de novo, não haveria um número para ser atendido.
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Mensagem por Romeo Campanaro Dom Jan 10, 2016 5:09 pm

Quando Isadora não deu ao rapaz sequer a chance de tentar se explicar, Romeo sentiu que seu orgulho fora gravemente ferido. Se fosse qualquer outra garota, Campanaro superaria aquela perda numa noitada regada a bebidas caras e mulheres atraentes. Mas era Isadora Romazzini. E nem mesmo todas as mulheres mais belas do planeta superariam o vazio que só Isa deixava no peito de Romeo.

Depois de ligar mais algumas vezes, de diferentes aparelhos, Campanaro se convenceu de que Isadora não atenderia mais as chamadas. A garota também não visualizou nenhuma das dezenas de mensagens enviadas para o celular.

Mas nem isso fez com que Romeo desistisse. Para ele, era desesperadora a ideia de aceitar que seu relacionamento com Isadora Romazzini havia chegado ao fim junto com a sua missão de espião.

Numa atitude de desespero, Campanaro tentou entrar em contato com a garota de diferentes maneiras. Já que o celular não se mostrava um caminho eficaz, Romeo tentou enviar mensagens privadas para o Facebook de Isadora, apenas para descobrir que não fazia mais parte do grupo de amigos dela e, por isso, não tinha o direito de enviar mensagens ao perfil.

Um extenso e-mail foi enviado ao endereço eletrônico da garota, contendo um pedido de desculpas. Romeo deixou bem claro que a aproximação dos dois não fazia parte da Missão Romazzini e que seus sentimentos por Isadora eram sinceros. Mas o e-mail não foi respondido. Campanaro sequer sabia se Isadora havia lido ou simplesmente deletado sem ler ao ver quem era o remetente.

O real desejo do rapaz era aparecer na casa de veraneio dos Romazzini, mas a certeza de que Enzo o mataria fez com que o ex-segurança reconsiderasse a decisão.

Por fim, sentindo-se totalmente sem saída, Romeo optara por uma medida mais radical do que simplesmente enviar mensagens que Isadora não responderia.

Mesmo sabendo que estava se arriscando demais, Campanaro deixou a segurança da mansão dos Agostini para tentar uma última jogada desesperada naquela batalha pela atenção de Isadora.

A bomba já havia estourado há cerca de três dias quando Antonella entrou no quarto da sobrinha com o telefone sem fio da casa em mãos. Antes que Isadora pudesse se negar a atender, a tia explicou.

- É o Hugo. Você não tem aparecido na faculdade, nem responde as mensagens. Ele está preocupado. Atenda nem que seja apenas para falar um “oi”, Isa.

A voz do melhor amigo soou do outro lado da linha assim que Isadora atendeu. A preocupação fazia com que a entonação do rapaz ficasse um pouco mais afetada, mas Hugo logo se controlou.

- Como você tem coragem de simplesmente sumir assim, Isadora Romazzini? Você não merece a minha amizade, sua vadia ingrata!

Hugo estava verdadeiramente bravo, mas cada uma das suas palavras refletia a sincera preocupação de uma amizade verdadeira.

- Eu não sei o que está havendo, mas imagino que seja algo grandioso. Ouvi meu pai falando que os Romazzini e os Agostini se uniram num acordo de paz e cooperação. Boa coisa não pode ser...

O rapaz fez uma pequena pausa antes de continuar, agora em entonação mais baixa.

- Isa, sua tia ainda está por perto?

Hugo esperou que a amiga dissesse que “não”. Antonella havia saído de perto para que a sobrinha tivesse mais privacidade para conversar com o melhor amigo.

- Teu bofe, ou ex-bofe, não sei mais... enfim, o Romeo foi me procurar na faculdade hoje. Ele disse que você não atende as ligações dele e me pediu ajuda para conversar com você. É claro que eu me neguei, afinal nem sei o que aconteceu. Estou ligando para que você me explique.
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Mensagem por Isadora Romazzini Dom Jan 10, 2016 7:33 pm

Isadora lamentou pelo celular, mas aquela ação dela foi necessária para que colocasse para fora parte de sua armagura pela situação. Enfiou a cara no travesseiro e o mordeu, contendo o grito de ódio que veio logo em seguida.

Nos dias que se seguiram, Isadora tomou uma decisão para sua vida: Não seria mais uma garota fraca.

Antonella e Enzo ficaram surpresos quando Isadora apareceu no dia seguinte dizendo com todas as palavras que gostaria de inteirar sobre os projetos e empreendimentos da famiglia, bem como desejava continuar treinando o uso de arma em algum lugar da casa de veraneio.

Enzo não se opôs, mas disse que eles poderiam se reunir depois do almoço. A verdade foi que nesse meio tempo, ele contou o que tinha acontecido ao pai. Lorenzo ficou tão surpreso quanto eles tinham ficado, mas naquelas circunstancias, era bom ver que Isadora estava crescendo. Mesmo que à custo de muita traição e apunhalada.

A primeira reunião com a tia e o irmão mais velho foi um pouco chocante e desconfortável. Havia muita história, personalidades, era um esquema bastante entrelaçado e minusciosamente estudado para que nunca viesse à tona.

Eles tinham mesmo uma imagem a zelar na luz do dia. O vinho da família era o melhor da Itália e eles eram respeitados na política e na economia. Boa parte dos rendimentos vinham dali.

Só que não abandonavam as tradições da famiglia.

A jovem tentou se manter o mais distante possivel de redes sociais e internet, de um modo geral. Já tinha deletado Romeo de seus contatos e o bloqueado na rede, de modo que ele não conseguiria nem chegar até seu perfil. Quanto ao e-mail, ela ignorou, sem ler, nem nada. Verdade que sentia curiosidade, mas estava focada em coisas mais importantes, no momento.

Passou a ocupar suas noites estudando sobre a propria famiglia, dava para manter a mente ocupada.

Estava fazendo isso quando a tia levou o telefone para ela.

Inicialmente franziu as sobrancelhas, acreditando que fosse Romeo e tia
Antonella estivesse acobertando o filho, mas logo relaxou ao ouvir o nome de seu amigo.

- Obrigada, tia...

Esperou que ela saisse e sorriu.

- Hugo!! Que saudades!!

Recostou-se um pouco mais na cama e deixou que o amigo soltasse as cachorras em cima dela.

- Eu sinto muito, Hugo, mas o meu pai mandou que saissemos da Sicilia. Não sei se você soube, mas o Pietro abriu uma nova casa noturna...

- Preciso confessar que sim. Estive lá e é bem melhor do que anterior.

- Então sabe onde está localizada, certo?

- Bom, achei muito estranho, mas...

- Então. Não tive tempo nem de me despedir e meu celular sofreu um problema, caiu na água.

- Arve, Isadora...

Isadora confirmou o acordo que os dois lados tinham feito, mas não entrou em detalhes. Hugo não precisava saber dos detalhes de sua familia.

Até que aquela história veio. Isadora franziu as sobrancelhas e massageou a têmpora.

- Hugo, eu te amo, mas por favor, não sirva de ponte para o Campanaro. É tudo o que eu peço a você. Ele mentiu pra mim, me traiu e...Eu não sou capaz de perdoá-lo depois de tudo o que ele me disse, de todas as mentiras. Não desejo vê-lo nunca mais e se você quer dar um aviso a ele, fale para que desista. Ele nunca mais vai chegar perto de mim.
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Mensagem por Romeo Campanaro Dom Jan 10, 2016 8:33 pm

Quando Hugo passou o recado de Isadora a Romeo, uma sombra cobriu os olhos do ex-segurança, deixando as íris azuis um tom mais escuro que o habitual.

Por mais que amasse Isadora, Romeo já se sentia muito ferido pelo comportamento dela. O rapaz estava movendo céus e terras e implorava por uma mísera chance de se explicar, mas nem mesmo isso recebia da garota. O orgulho de Campanaro era grande demais para que ele aguentasse tantos golpes sucessivos.

Embora Isadora continuasse sendo uma dor incurável no coração dele, Romeo decidiu que seguiria com a vida independente do seu passado na mansão Romazzini.

Agora que o maior inimigo dos Agostini sabia de sua existência, a participação de Romeo nos negócios do pai não precisava mais ser um segredo. A relação com Benito ainda estava bastante fragilizada, mas os dois se reaproximaram quando Romeo demonstrou interesse em retornar aos negócios da famiglia.

O rapaz não precisou nem de dez minutos de conversa com o pai para notar que Benito estava arrasado. O mafioso tentava demonstrar interesse pelos negócios, mas quem o conhecia tão bem quanto o filho sabia que a cabeça de Agostini estava mergulhada num dilema pessoal que atendia pelo nome de Antonella.

Estava claro que o relacionamento de Isadora e Romeo não fora o único a sofrer com o estouro daquela bomba.

E foi a tristeza do pai que motivou Romeo a tomar aquela atitude drástica. É claro que intimamente o rapaz também sentia a necessidade de falar com ela, mas isso era algo que Romeo jamais admitiria nem para si mesmo.

Antonella estava no quarto de Isadora, conversando com a sobrinha sobre os negócios da famiglia quando seu celular vibrou. Ela sabia que não era o número de Benito simplesmente porque havia bloqueado as chamadas do amante. Mas o visor mostrava um número desconhecido que poderia muito bem estar sendo usado pelo mafioso para tentar falar com ela.

Foi pensando nessa possibilidade que a loira atendeu com uma entonação carregada. Um de seus dedos já segurava o botão para cancelar a chamada e ela o apertaria assim que ouvisse a voz de Benito. Mas foi o timbre grave de Romeo que soou do outro lado da linha.

- Sou eu, Antonella.

- Não temos nada para conversar.

Apesar das palavras duras, a loira não teve coragem de desligar. Embora não se comportasse como tal, Romeo era seu filho. O bambino que ela se esforçara tanto para salvar das garras dos Romazzini.

- Eu não te ligaria se não tivesse nada para falar, Antonella. Você sabe que não.

Até então, Isadora poderia pensar que a tia realmente estava falando com o ex-amante. Mas esta impressão foi desfeita no momento em que Antonella dirigiu um olhar à sobrinha antes de responder.

- Nem pense em me pedir ajuda com a Isadora. Você sabe muito bem que eu sempre fui contra esse...

- Estou ligando para falar do meu papà. – Romeo interrompeu bruscamente o assunto “Isadora”, deixando clara toda a mágoa que sentia da garota – Ele não merece ser tratado assim, Antonella.

- O QUEEEE? – os olhos da loira faiscaram e ela se colocou de pé, profundamente irritada – Eu não acredito nisso! Eu sempre soube que o Benito não valia nada, mas isso é demais até para os padrões imundos dele! Ele está te usando para me atingir! É muita crueldade, é muito desrespeito com os meus sentimentos!!!

Romeo fez uma breve pausa antes de responder.

- Dios mio, você realmente deveria ter seguido a carreira de atriz, Antonella. Você nasceu com uma veia invejável para o drama! Meu papà não está me usando, ele sequer sabe sobre esta ligação. Você acha mesmo que eu concordaria em ser usado como cupido desta relação? Você me conhece e sabe o que eu penso sobre vocês dois...

A voz de Romeo se tornou mais branda quando ele acrescentou.

- Eu não suporto ver o papà tão triste. Você está sendo injusta com ele, Antonella. Não consegue enxergar que o sacrifício que ele fez se unindo aos Romazzini também tinha o objetivo de proteger você? E não venha me dizer que está magoada porque tudo foi feito pelas suas costas. Não venha dizer isso logo para MIM, que fui o maior atingido por este acordo inesperado.

Mais uma vez, a mágoa se fez presente na entonação de Romeo, mas o ex-segurança dos Romazzini se recusou a citar o nome de Isadora.

- Papà acolheu o Pietro, deu uma chance a ele e se uniu ao seu irmão em prol da segurança das duas famiglias. Ele só te deu provas de afeto e você virou as costas para ele. Eu só estou te ligando para pedir que você reconsidere, Antonella. Ele não merece sentir este vazio, ele está triste demais com o seu silêncio.

A maneira como Romeo falava deixava claro que ele conhecia bem o sentimento do pai exatamente porque, sem Isadora, o rapaz sentia o mesmo vazio e a infelicidade que Benito experimentava longe de Antonella.
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Capítulo 6 - Roleta-Russa Empty Re: Capítulo 6 - Roleta-Russa

Mensagem por Isadora Romazzini Seg Jan 11, 2016 3:06 pm

A ligação de Romeo havia desarmado Antonella. Por mais firme que tivesse começado logo no inicio, dizendo que não havia nada para falar com o filho, a simples iniciativa do rapaz a deixava um pouco mais balançada. Era seu bambino, afinal. Estava agindo por amor ao seu pai, mas abria mão do orgulho para falar com ela.

Antonella trocou um olhar com Isadora e a sobrinha se manteve em silêncio, voltando a atenção para os arquivos que estava lendo. Saiu do quarto dela, seguindo até a varanda.

Quando saiu para a varanda, ela se deparou com uma vista diferente da que eles tinham na primeira casa. Desde que voltaram de Siracusa, tudo havia mudado, desde a residência oficial da família até a rotina da casa. Antonella não gostou de retornar para a casa onde passara sua infância, porque era como se a mãe estivesse ali. Sabia que também era difícil para Lorenzo, porque ele teve que deixar para trás, mesmo que temporariamente, o lar que construíra com Chiara.

No entanto, era importante que os Romazzini se mantivessem firmes e aquela mansão tinha passado por um reforma recente, além de ser tão ou mais segura do que a anterior. Ademais, eles também precisavam se reestruturar e se unirem novamente como a familia que um dia formaram.

Antonella não demorou muito do lado de fora. Agradeceu ao filho por conta da preocupação e disse que compreendia a postura de ambos. Mas pedia um tempo para pensar. Querendo ou não, ela também estava ferida.

Uma vez retornando para o quarto, ela observou a postura de Isadora. Aproximou-se da sobrinha, também mexendo em alguns albuns de família.

O silêncio incomodou um pouco, mas Isadora começou.

- Você deveria falar com ele.

- Hm?

- Com Benito Agostini. - Isadora respondeu naquele novo tom de voz que ela havia adquirido e ergueu o olhar para encarar a tia. Eram frios, mas também tinham um pouco de carinho e preocupação. - Ainda mais agora que existe essa aliança, não será suspeito se você falar com ele.

- Eu não posso, Isadora. - Umedeceu os lábios. - Nossa relação apenas trouxe complicações em todos os ramos. E Lorenzo está tão desgostoso com os últimos acontecimentos que tenho medo de estragar essa aliança se ele descobrir tudo.

Isadora suspirou, ajeitando-se na cama.

- Vocês criaram em conjunto uma mentira chamada Romeo. - A jovem ainda usava aquela entonação fria. - Mas você deveria ao menos conversar com ele. Quem sabe essa aliança com os Agostini não traz algo bom para a Sicilia? Seriam mais poderosos e poderiam aumentar os dominios para o sul da Itália, quem sabe a França também.

Deu de ombros, observando os papéis.

Antonella deu uma risada.

- Ele ainda é casado e nosso filho é um segredo para quem realmente não pode saber.

- É apenas uma questão de tempo, tia. A senhora sabe que essa bomba começou a contagem regressiva no instante que descobriu a verdade. Meu papà não é tolo, cedo ou tarde ele vai saber disso. E eu acho que seria mais seguro para a senhora, ter o apoio e a proteção do homem que sempre amou.

Isadora cruzou os braços.

- Vocês sempre se amaram. Não deveriam agir como se isso fosse uma mentira.

Abaixou o olhar e Antonella tocou em seu braço.

- E você e Romeo..?

- É completamente diferente. - Ela encarou a tia. - O Benito nunca mentiu para você ou a usou como parte de um plano maior. Ele a ama e assumiu os riscos. Campanaro, não. Ele mentiu de todas as formas possíveis, mesmo quando teve a chance de dizer a verdade.

- Não é bem assim...

- Tia. A senhora é a mãe dele, nunca vai vê-lo como o homem sórdido que ele é. Essa é a verdade.

As duas se encararam fixamente.

- Minha doce Isadora... - Acariciou o rosto dela, dando um sorriso triste. - Você ainda tem muito o que aprender. Relacionamento nunca é preto ou branco, simples de ler. Eu ainda tenho esperanças que você vai reconsiderar, de alguma forma.

Isadora deu um sorriso triste.

- Não vou. - Suspirou. - Mas tem uma pessoa que eu gostaria muito de ver. Talvez a senhora consiga uma reunião com Benito e eu acompanhe para vê-lo.

- Quem?

- Pietro...

Pela primeira vez, a voz de Isadora embargou um pouco e ela engoliu em seco. Antonella sentiu um aperto no coração, mas logo ponderou.

- Talvez pudessemos tentar uma reunião no Cassino, o que acha? Antes que abra...

- Seria perfeito...

- Só preciso pensar numa boa desculpa.

Não demorou para que Antonella pensasse numa boa desculpa. Agora que eles eram aliados, ela também tinha negócios a tratar com Benito. Como, por exemplo, a questão da segurança dos vôo privados e comerciais de sua companhia aérea e os lucros que eles também geravam para a parte das ações de Benito no aeroporto - como uma "zona neutra", os dois tinham algumas ações.

Não era grande coisa, mas Antonella fez parecer que era muita coisa. Como dona da companhia aérea e Romazzini, ela estava muito interessada em discutir certas questoes com ele.

Lorenzo não tinha gostado daquela história, mas como não entendia dos negócios da irmã e não queria prejudicá-la, ele não se opôs. Antonella pediu para que Isadora fosse com ela e quando o irmão quis saber o porque, a mulher foi clara.

- Ela é minha herdeira. A menina tem tato para os negócios e é bom que aprenda. Fora que seria um bom teste para que ela entenda como os Romazzinis agem diante de um Agostini.

Antonella percebeu a emoção do irmão quando ela falou isso e ele permitiu que as duas fossem.

A própria Antonella ligou para a secretária particular de Benito e pediu para agendar um horário com ele. Seria às 19h, no escritório de seu cassino. Mesmo que ele tivesse uma sala num prédio mais respeitoso, Antonella justificou que a agenda estava cheia e ela queria resolver logo isso.

Isadora conseguiu o telefone do irmão e perguntou se poderia vê-lo no mesmo horário. Pietro estranhou o tom de voz de Isadora, mas permitiu.

Tanto Antonella quanto Pietro disseram para Romeo que Isadora iria até o cassino naquele inicio de noite.

O lugar só abriria depois das 22h, mas ele era movimentado mesmo assim. A segurança sempre olhava para tudo, as maquinas eram mexidas, as luzes eram testadas, enfim. Havia muito movimento.

Antonella dispensou os seguranças ainda do lado de fora, como um ato de confiança. Ela foi guiada até a sala de Benito. Já Isadora, tinha combinado de encontrar Pietro no bar do cassino.

Como sempre, Antonella estava elegantemente vestida de preto. Usava um vestido tubinho e um blazer comprido preto. Os scarpin era vermelho e ela carregava uma pasta com as informações que discutiria com Benito. O cabelo estava preso num elegante coque banana e ela tinha aquele porte de rica empresária.

Era o seu normal.

Isadora era quem surpreendia. Pietro precisou se esforçar um pouco mais para reconhecê-la. Os cabelos cacheados deram lugar a um cabelo bem alisado e reto na metade de suas costas. O macacão preto a alongava mais e dava um ar mais sério e formal à jovem. As costas ficavam expostas, mas o cabelo escondia. Usava pouca maquiagem, apenas rimel, destacando os olhos e um batom mate rosado.

Diminuiu seus passos, olhando ao redor enquanto procurava por seu irmão.
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Capítulo 6 - Roleta-Russa Empty Re: Capítulo 6 - Roleta-Russa

Mensagem por Romeo Campanaro Seg Jan 11, 2016 5:17 pm

Ao contrário do que geralmente acontecia à noite, quando o cassino dos Agostini estava abarrotado de clientes, o salão estava claro e silencioso quando Isadora e Antonella entraram. Não havia as luzes coloridas, nem as músicas da boate ou os ruídos das máquinas caça-níquel. Os funcionários se moviam de um lado para o outro, ajeitando os últimos detalhes para que tudo estivesse perfeito quando as portas fossem abertas ao público.

Embora fosse um tipo de ambiente que nenhuma das duas Romazzini tivesse o costume de frequentar, estar no cassino dos Agostini não era de todo desagradável. O lugar era amplo e decorado de forma luxuosa, o que era necessário visto que a clientela era composta principalmente pela elite da Sicilia.

As duas mulheres se despediram no meio do salão antes que Antonella seguisse sozinha até o corredor que levava ao escritório de Benito.

A secretária particular de Agostini era uma mulher que poderia causar alguma insegurança em Antonella caso ela não tivesse plena certeza dos sentimentos do mafioso. Além de jovem, a moça era extremamente bonita. Conforme sua função exigia, a secretária usava roupas elegantes. Os cabelos loiros estavam presos num impecável coque baixo, o rosto delicado exibia uma maquiagem mais forte, mas de bom gosto. A saia preta ultrapassava os joelhos dela, mas era justa o bastante para deixar evidentes as curvas tentadoras do corpo da loira. Completando o visual, a moça usava uma blusa de botões branca e saltos finos, que deixavam a sua postura ainda mais impecavelmente elegante.

- Don Benito já espera pela senhora...

A voz suave da secretária soou antes que ela abrisse a última porta do corredor e fizesse um gesto, convidando Antonella a entrar no luxuoso escritório principal do Cassino Agostini.

Benito estava confortavelmente sentado em sua cadeira acolchoada. O mafioso estava concentrado em alguns documentos espalhados sobre a sua mesa, mas ergueu os olhos para Antonella tão logo a porta foi aberta e a amante surgiu em seu campo de visão.

Nem em um milhão de anos, Benito se acostumaria com a beleza daquela Romazzini. Os dois já tinham uma história antiga, Antonella não era mais uma mocinha. Mas o coração de Agostini ainda saltitava por ela como se ele fosse um adolescente.

Benito simplesmente não conseguiu disfarçar a admiração enquanto os olhos escuros desciam demoradamente pela imagem da loira a sua frente. Por sorte, a secretária já havia fechado a porta e deixado os dois sozinhos, então não havia nenhuma testemunha para ver a expressão que Agostini lançava à irmã de seu pior rival.

Passada a surpresa inicial com a entrada triunfante de Antonella, o mafioso pigarreou e conseguiu retomar o controle do próprio corpo, assumindo uma postura um pouco mais profissional.

- Confesso que fiquei surpreso com a sua iniciativa de agendar esta reunião. Eu não esperava vê-la depois de trinta e sete ligações ignoradas.

A firmeza de Benito ao pronunciar aquele número passava a impressão de que o mafioso realmente havia contabilizado todas as chamadas que fizera para o celular de Antonella nos últimos dias.

É claro que ele sabia que os “negócios” foram apenas uma desculpa usada para Antonella para justificar a sua presença no cassino. Porém, Benito ainda não saberia dizer qual era o real objetivo dela. Agostini torcia intimamente para que Antonella estivesse ali para esclarecer as coisas e tentar uma reconciliação. Mas também havia a chance da loira ter sido movida pela personalidade explosiva e estivesse ali para exigir explicações.

Com um gesto, Benito indicou uma das cadeiras a sua frente, do outro lado da mesa, num convite mudo para que Antonella se sentasse.

- Quer beber alguma coisa? – o mafioso se permitiu um pequeno atrevimento – Tenho uma garrafa daquele vinho suave que você tanto gosta no meu estoque.

(...)

Isadora não era a única que havia mudado o visual nos últimos tempos. O rapaz que a esperava no bar do cassino também não se parecia com o velho Pietro das lembranças da caçula.

Os cabelos escuros do rapaz, antes espetados, agora estavam muito bem penteados com a ajuda de um pouco de gel. Pietro sempre gostara de roupas mais largadas e geralmente usava jeans até para eventos mais formais, mas naquela noite usava uma calça social preta e uma camisa de botões azul petróleo. A barba desleixada do passado agora estava muito bem aparada, dando a Pietro um ar mais maduro.

Pela primeira vez na vida, Lorenzo teria orgulho do filho do meio quando o visse tão bem adaptado ao papel de um homem de negócios. Com aquela aparência, ninguém jamais questionaria a capacidade de Pietro em gerenciar um estabelecimento.

Quando os irmãos Romazzini finalmente se reconheceram, Pietro esperou que a caçula se aproximasse do bar. O balcão estava completamente vazio, visto que o cassino ainda não estava aberto para os clientes, mas Pietro bebericava um drinque servido por um dos garçons enquanto esperava pela irmã.

O Pietro do passado certamente teria feito uma piadinha com a nova aparência de Isadora, mas o atual Pietro manteve um semblante sério enquanto a garota se aproximava.

O último contato dos dois havia sido traumático para ambas as partes e ele simplesmente não sabia o que esperar de Isadora, muito menos depois da explosão das últimas bombas. Pietro sabia bem que suas últimas atitudes tinham sido imperdoáveis para os Romazzini.

- O seu pai sabe que está aqui, Isadora? – a entonação de Pietro soou fria e impessoal, como se ele estivesse diante de uma estranha e não da própria irmã.
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Mensagem por Isadora Romazzini Seg Jan 11, 2016 7:41 pm

Os passos de Antonella seguiram firmes e precisos até a porta do escritório dele. Sua postura era impecável e a cabeça continuava erguida enquanto os olhos azuis repousavam na madeira nobre que a separava de Benito. A secretária era uma jovem muito bonita e educada, mas nem por um segundo Antonella tinha se sentido ameaçada por ela. A grande verdade é que ela se garantia quando o assunto era Benito.

Apesar de parecer bastante tranquila, Antonella estava nervosa por dentro. Sentia o coração disparado e a expectativa aumentava conforme os segundos passavam.

As portas foram abertas e quando entrou no escritório de Benito, nada mais importava. A jovem secretária tinha saído e fechado a porta, mas os olhos de Antonella tinham apenas um alvo.

Sentiu quando suas bochechas coraram como se ela fosse uma adolescente tola e apaixonada diante do olhar que recebeu de Benito. Desviou o olhar por um instante, visivelmente envergonhada por seu corpo entregá-la co mtanta facilidade. Pigarreou suavemente e voltou a encará-lo.

Esboçou um sorriso no canto dos lábios.

- Agora eu que estou surpresa por você ter contado quantas vezes foram...

Respondeu num tom ligeiramente sarcastico, mas se aproximou da cadeira oferecida por ele. Retirou o sobretudo, colocou a pasta sobre a mesa dele e sentou-se, cruzando as pernas de modo elegante.

A proposta arrancou outro sorriso dela. Estava mais do que claro que ela não queria brigar com ele, muito pelo contrário. E era divertido como ela também tinha o whisky favorito dele em sua casa, mesmo antes deles se reencontrarem.

- Vinho sempre vai bem...

Observou quando ele levantou-se e caminhou até um pequeno estoque especial que ele tinha. Os olhos acompanhavam aquele homem que ela tanto amava e havia se entregado muitos anos atrás.

Sua cabeça estava levemente tombada e o olhar dela bastante nostálgico.

Quando Benito virou-se para encará-la, encontrou aqueles olhos voltados para si. Ele a encarou meio sem entender.

- O que foi...?

- Eu estava recordando... - Suspirou. - A primeira vez que eu te vi pessoalmente, sem saber o seu perigoso nome...

Benito aproximou-se tranquilamente de sua cadeira, entregando o vinho a ela, mas ainda escutando.

- Você me encantou desde o primeiro segundo. E eu pensei que jamais um desconhecido seria capaz de me causar tanto impacto, admiração, desejo...

Pegou a taça, mas não a bebeu ainda.

- Os anos passam e eu ainda tenho que dar razão àquela menina de dezoito anos. - Levantou-se, mas ainda teve que tombar a cabeça para trás. - Você nunca deixará de ser o amor da minha vida.

Acariciou a barba dele.

- É tão errado assim amar tanto uma pessoa?

--

Isadora demorou um tempo para reconhecer Pietro e acabou demonstrando uma certa surpresa com o novo visual de seu irmão. Não demorou em se aproximar, mesmo que estivesse com um pouco de receio da forma como seria tratada.

A última vez que eles tinham se visto tinha sido bastante traumática. Isadora ouviu muita coisa que não gostaria, mas que também não deixavam de ser verdade.

- Sabe que eu vim, não sabe que foi por você.

Respondeu num tom de voz rouco.

- É uma mentira que ele pode lidar.

Umedeceu os lábios, demonstrando o quão magoada ainda estava com aquela história. O tom cinico não era tipico de Isadora, mas ela pareceu confortável em usá-lo.

Pediu ao barman uma água tônica com limão e voltou a encarar Pietro.

- Eu sinto sua falta. - Falou baixinho. - Todos os dias, eu sinto sua falta. Você estava absolutamente certo sobre tudo o que falou naquela noite, pelo menos sobre mim. Você foi meu melhor amigo durante todos esses anos e eu não...

A voz embargou e ela precisou de um segundo.

- Não fui sua amiga quando soube tudo. Eu fui injusta com você e eu sinto muito por isso. Quando soube que você estava aqui, eu senti um misto de choque e alegria. Porque eu sei que você nunca trairia sua família, contando nossos segredos, mas sabia que você estava a salvo. E eu poderia relaxar, sem pensar que você estava com uma arma apontada para sua cabeça.

Suspirou.

- Eu te amo tanto, Pietro...Você sempre será meu irmão, mesmo que você não me considere mais a sua gordinha...

Falou cada vez mais baixo, abaixando o olhar e passando a mão pelo rosto evitando que a lágrima rolasse.
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Mensagem por Romeo Campanaro Qua Jan 13, 2016 5:34 pm

Um profundo alívio se apoderou de Benito quando Antonella deixou bem claro que não estava ali para iniciar uma briga ou para oficializar o término daquele romance proibido. Apesar de já ser um homem maduro, Agostini jamais estaria preparado para perder novamente o grande amor da sua vida.

Os comentários de Antonella arrancaram um sorriso do mafioso e ele ergueu uma das mãos, tocando nos dedos delicados que acariciavam a sua barba bem aparada. Apesar das marcas de expressão e dos cabelos escuros bastante salpicados de fios brancos, Benito se sentia novamente como um adolescente ao lado de Antonella Romazzini.

- É um erro do qual eu nunca me arrependerei, Ella.

Não eram simplesmente palavras vazias. Agostini tinha plena convicção de que, por mais errado e arriscado que fosse, ele jamais se arrependeria da história proibida com Antonella. Além do inegável amor que os unia, os dois tinham um fruto daquela relação. Não era por um simples acaso que Romeo sempre fora o filho mais amado e mais admirado de Benito.

Aproveitando-se daquela proximidade, Benito segurou a mão de Antonella e levou as pontas dos dedos delicados até os lábios, beijando a pele macia que ele já conhecia tão bem.

- Quando ficar brava comigo novamente, o que inevitavelmente vai acontecer por causa dessa sua personalidade terrível...

O sorrisinho provocativo de Agostini indicava que ele tinha plena consciência de que seu gênio era quase tão ruim quanto o de Antonella.

- ...me xingue, me bata, ameace arrancar a minha cabeça. Só não me ignore mais, Ella. Eu não sei mais viver sem você.

(...)

As palavras de Isadora desarmaram por completo o irmão. Pietro fora a aquele encontro preparado para uma nova discussão, para questionamentos e acusações. A nova aparência da garota reforçava a ideia de que Isadora não estava ali com a melhor das intenções. Mas o discurso dela desconstruiu toda aquela imagem de frieza e fez com que Pietro se derretesse.

O rapaz manteve a mesma postura formal, mas seus olhos foram perdendo gradativamente aquele ar carregado.

Embora ele tivesse dirigido acusações pesadas contra a irmã no último contato deles, Pietro não deixara de amá-la. Isadora seria eternamente a princesinha com quem ele implicava terrivelmente, mas por quem morreria sem pensar duas vezes.

- Até parece.

As palavras soaram sem contexto e foram seguidas por uma prolongada pausa. Quando completou o raciocínio, Pietro pronunciou a provocação apertando a barriguinha da irmã com cócegas.

- Essas roupas sofisticadas não disfarçam os seus pneuzinhos, gordinha!

Por sorte, o bar do cassino ainda estava vazio e ninguém viu quando os dois irmãos se atracaram, Pietro ainda fazendo cócegas na caçula e Isadora o enchendo de tapas enquanto tentava se soltar.

O rapaz ria gostosamente quando finalmente se cansou e afastou os dedos, permitindo assim que Isadora voltasse a respirar. Ali estava a maior prova de que o Pietro maluco de sempre ainda vivia por baixo daquela capa de homem de negócios sério.

- Eu disse muitas coisas ruins naquele dia. – o rapaz voltou a adquirir um ar mais sério – Mas eu estava cansado da forma como eu era tratado. Eu estava magoado com todos, inclusive com você por causa do seu comportamento distante.

Os olhos de Pietro giraram ao redor, indicando o ambiente do cassino.

- No fim das contas, isso era tudo o que eu precisava. Aqui eu encontrei o apoio e a confiança que eu nunca tive em casa. Aqui eu me dei conta de que precisava ser responsável porque não teria mais o dinheiro dos Romazzini para me salvar no fim do mês. Os negócios vão indo bem. Eu sou muito bem tratado por todos. E, ao contrário do que vocês pensam, eu não traí os Romazzini. Este foi um acordo puramente comercial, eu não disse nada que pudesse prejudicar a sua famiglia. Ou melhor...

Pietro abriu um sorrisinho sem graça para a irmã.

- Eu cometi uma pequena traição com você, gordinha. – o rapaz fez uma breve careta – Eu contei ao Romeo que você estaria aqui hoje.
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Mensagem por Isadora Romazzini Qua Jan 13, 2016 7:14 pm

Antonella deu um sorriso quando ouviu o discurso de Benito. O olhar dela já estava perdidamente apaixonado de novo, mesmo que a mágoa ainda fosse recente. Talvez o tempo tivesse ensinado que eles nunca sabiam quanto tempo, de fato tinham para aproveitar os instantes que desfrutavam da presença um do outro.

Verdade que ela não tinha ido ali para brigar com ele, mas não esperava que fosse agir tão naturalmente e que seus gestos também seguissem aquela trilha carinhosa.

Benito era capaz de eliminar as barreiras de Antonella com apenas um olhar e ele já tinha vencido qualquer possível batalha com o primeiro olhar que trocou com ela. Que mulher não ficaria com as pernas bambas diante do olhar apaixonado, mesmo depois de tantos anos de relacionamento?

Acariciou a perfeita barba dele e aproximou a ponta do nariz do dele.

- Já posso começar a reclamar, então?

Deu uma risada e meneou negativamente.

- Depois, depois...

Tombou a cabeça para o lado, ainda o encarando bem de perto.

- A reclamação pode ficar para depois...

Sussurrou e aproximou os lábios dos dele, dando um longo selinho. Sentia a barba dele espetando seu rosto - que não era mais tão frágil quanto na juventude, mas ainda assim era um rosto delicado. A sensação era única, ela realmente adorava quando sentia aquela barba.

Envolveu o pescoço dele com os dois braços e uniu os corpos, iniciando um beijo experiente, de tirar o fôlego.

Essa era a vantagem de dois corpos que se conheciam como poucos.

--

Isadora arqueou uma das sobrancelhas com aquela frase sem sentido de Pietro.

"Até parece."

O que ele queria dizer com isso? Que ela tinha mentido? Que não tinha sido sincera??

Rapidamente sua expressão ganhou uma mistura de confusão e um pouco de raivinha, mas Pietro a acalmou quando soltou aquela piada. O sorriso veio rapidamente e, logo em seguida, as risadas.

Como Isadora sentia falta daquilo! E, principalmente, de rir com vontade.

Fechou os olhos se encolhendo por conta das cócegas e começou a distribuir tapas aleatórios em Pietro. As gargalhadas ecoaram pelo cassino, atraindo algumas atenções e até mesmo sorrisos.

Quando Pietro cansou, Isadora respirou fundo e pulou em seu pescoço. Era aquele tipico abraço de uma criança num pai ou simplesmente da irmãzinha caçula que usava tranças em seu irmão mais brincalhão. Apertou firmemente o abraço, deitando a cabeça no ombro dele.

- Eu senti falta disso...

Falou baixinho e se afastou para que ele pudesse falar também. Meneou positivamente com as palavras do irmão, mostrando-se compreensiva, entendendo o lado dele.

- Nunca duvidei disso. Sei que você nunca colocaria a vida de sua familia em risco, mesmo depois do que aconteceu.

Suspirou e umedeceu os lábios. Queria ter comentado mais coisas, mas logo ele falava sobre a pequena traição que havia cometido com ela. Isadora deixou os ombros caírem um pouco e desviou o olhar por um instante.

- Não posso dizer que não esperava por isso.Era quase previsível, porque ele é seu amigo, afinal, mas...

Ergueu a cabeça de novo, encarando Pietro com a mesma seriedade do início.

- Creio que ele entendeu o meu recado sobre não desejar vê-lo mais. Minha família mentiu pra mim durante minha vida inteira, praticamente, mas o Campanaro me traiu de uma forma irreversível. Eu estava disposta a abandonar tudo para ir embora com ele, Pietro. Mas ele...Ele sempre esteve apenas de um lado e me usou para vários objetivos.

Abaixou o olhar, dando aquele suspiro de choro, mas se conteve.

- Eu só peço para que não faça isso, por favor.
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Capítulo 6 - Roleta-Russa Empty Re: Capítulo 6 - Roleta-Russa

Mensagem por Romeo Campanaro Sáb Jan 16, 2016 8:44 am

- Foi a coisa mais ingênua que eu já ouvi em toda a minha vida. Nem você nunca tinha dito uma inocência tão grande, gordinha.

Pietro permitiu que a irmã sofresse o impacto dessas palavras antes de se explicar melhor.

- Não existe NINGUÉM nesta história que jogue de um lado só. Sabe qual é a maior prova disso? A atual união dos Romazzini com os Agostini. Nem mesmo o seu papà se manteve firme em apenas um lado desta batalha. Quando as coisas começaram a ficar feias, ele agarrou a ajuda oferecida pelos Agostini com as duas mãos.

A mágoa de Pietro ficava ainda mais evidente quando ele se referia a Lorenzo como pai de Isadora. Era como se o rapaz já tivesse se acostumado com a ideia de não ter mais nenhum tipo de laço com o líder dos Romazzini.

- Eu estou do lado dos Agostini agora, mas nem por isso tive coragem de trair os Romazzini. E, embora eu não saiba maiores detalhes, já percebi que a tia Ella tem um comportamento bem parecido com o meu.

O olhar que Pietro lançou aos fundos do cassino deixava bem claro que ele sabia que Antonella não estava ali apenas para resolver pendências comerciais com Benito Agostini.

- Gordinha, tudo é uma questão de oportunidade e de interesses particulares. É tolice achar que exista alguém que jogue em somente um lado.

Embora Pietro tivesse ficado chateado ao descobrir a verdadeira identidade de Campanaro, a amizade acabou falando mais alto. Romeo havia lhe oferecido a mão no momento mais difícil de sua vida, e isso era algo que Pietro jamais esqueceria.

- Enfim. Eu entendo a sua mágoa, mas acho que está sendo muito radical. O Romeo não é o príncipe encantado dos seus sonhos, mas ele também nunca fingiu ser, gordinha.

Pietro se calou no instante em que Romeo atravessou a porta principal e entrou no cassino. O semblante sério do antigo segurança dos Romazzini mostrava que não fora fácil abandonar o próprio orgulho para estar ali. Se fosse qualquer outra mulher, Romeo já teria desistido e partido para outra conquista depois do segundo fora. Mas o seu coração se recusava a superar Isadora com tanta facilidade.

Naquele começo de noite, Campanaro não usava os seus costumeiros trajes sóbrios de segurança particular. A calça jeans tinha uma lavagem escura, a blusa era cinza-chumbo e estava parcialmente oculta por uma jaqueta preta. Nas mãos, Romeo carregava o capacete que compunha a moto deixada na porta do cassino.

Os olhos azuis escuros varreram o cassino até pararem no balcão onde os irmãos Romazzini conversavam. Isadora estava de costas e parecia diferente com o cabelo totalmente liso e as roupas mais sofisticadas. Mas Romeo a reconheceria com facilidade de qualquer maneira.

A maneira pouco delicada com a qual Campanaro jogou o capacete sobre o balcão já era uma amostra grátis do humor dele naquela noite. Pietro se arrependeu de ter contado ao amigo sobre a presença de Isadora quando percebeu que a briga seria inevitável.

- Ok, acalmem-se. – Pietro olhou de um para o outro, como um filhote de alce perdido no meio de uma briga de leões – Vocês precisam conversar civilizadamente.

- Dê o fora, Pietro. – a voz grave de Romeo soou fria como gelo.

- Oi?

- É uma conversa particular.

- Graças a mim!

- Muito obrigado. Mas agora dê o fora.

Como era tolice se meter naquela guerra de gigantes, Pietro retirou seu exército do campo de batalha. O rapaz se afastou o bastante para que o casal pudesse ter uma conversa mais privativa, mas manteve-se atento à cena. Por mais que gostasse do amigo, Pietro partiria em defesa da irmã se os dois perdessem o controle daquela discussão.

Tão logo ficou sozinho com Isadora, Romeo dirigiu a ela o seu olhar gelado. Naquele ambiente, sem as roupas de segurança e com o semblante fechado, Campanaro se parecia mais do que nunca com um Agostini mafioso.

- Esta é a minha última tentativa de falar com você, Isadora. Eu não costumo insistir tanto, mas ainda acho que vale a pena tentar uma vez mais.

Romeo fez uma breve pausa antes de continuar.

- Imagino que não sejam mais necessárias explicações e que você já tenha tido tempo para pensar e repensar em tudo o que está acontecendo. Você sabe quais eram os meus objetivos ao ser contratado pelos Romazzini. Mas o que aconteceu entre nós dois não fazia parte do plano. Pelo contrário, o meu envolvimento com a filha de Lorenzo era uma traição aos Agostini.

Pela primeira vez naquela noite, o semblante de Romeo se tornou menos carregado. Ele se atreveu a deslizar a mão sobre o balcão até tocar o braço de Isadora. Como acabara de chegar de moto, os dedos de Campanaro estavam gelados em contraste com a pele quente da garota.

- Eu não planejei nada disso, tampouco menti sobre os meus sentimentos por você, Isadora. Aliás, se tudo fosse uma mentira ou uma brincadeira, eu não estaria aqui neste momento. Eu nunca permiti que uma mulher me dissesse um segundo “não”, mas com você é diferente. Você eu não posso substituir.

Romeo fez mais uma pausa antes de acrescentar com a voz baixa, mas firme.

- Simplesmente porque eu amo você, Isadora.
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Mensagem por Isadora Romazzini Sáb Jan 16, 2016 12:08 pm

A expressão de Isadora voltou a ficar bastante séria enquanto o irmão defendia aquele ponto de vista. Não chegou a contestar no início, porque Pietro estava certo olhando por aquela perspectiva. Acontece que ele não sabia de tudo o que Romeo e ela tinham vivido e prometido um ao outro.

No caso, mentido.

A união dos Romazzini e dos Agostini tinha surpreendido toda a Sicília, mas era algo temporário. Porque, por algum motivo, os inimigos dos Romazzini também tinham voltado os olhares para os Agostini. Seria algo temporário, para que ambos sobrevivessem. Quando o momento crítico passasse, tudo voltaria ao normal.

Era apenas uma questão de conveniencia para os dois lados.

Isadora deu um longo suspiro, umedecendo delicadamente os lábios carnudos e encarou o irmão. Quando ele chegou ao final de seu discurso, a jovem murmurou.

- Eu nunca pedi por um principe encantado. Mas eu merecia mais do que um mentiroso...

Franziu um pouco as sobrancelhas quando percebeu a mudança no comportamento de Pietro. Isso indicava apenas uma coisa: Romeo estava ali. Fechou os olhos, tombando um pouco a cabeça e tentando manter a mente clara enquanto a distancia entre eles diminuía. Naqueles segundos, ela pôde sentir o perfume de Romeo pairando pelo ambiente, bem como sua presença que sempre se destacava por onde ele passava.

Estava de costas para a entrada e abriu os olhos ao ouvir o baque que o capacete fez no balcão. Colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e levantou-se do banco alto que estava. Virou-se na direção de Romeo com a cabeça ainda erguida e finalmente, depois de semanas, ela o encarou pela primeira vez.

Não disse absolutamente nada enquanto ele falava para que Pietro saísse. Fez sinal para que o irmão se afastasse, indicando que estava tudo bem.

Os olhos azuis celeste de Isadora ficaram cravados nos olhos de Romeo. Não era apenas a aparência da moça que tinha mudado, seu interior também estava diferente. Tinha substituído aquele olhar ingênuo por um olhar frio, duro e praticamente impossível de passar. Não era preciso dizer nada para que Romeo soubesse que ela o desprezava. Sua postura era bastante fácil de ser lida.

Os braços estavam cruzados e mesmo quando ele tocou em sua pele, ela não manifestou nenhuma reação.

Verdade que tinha sentido o coração disparar e um arrepio por conta da mão gelada, mas ela continuou imóvel.

Ou pelo menos foi assim até as duas últimas frases dele.

Os lábios de Isadora tremeram e ela formou um sorriso, chegando a mostrar os bonitos dentes, mesmo que fosse graciosamente dentucinha. Mas Romeo não deixaria se enganar, não era o mesmo sorriso delicado de outrora.

Isadora chegou a rir de leve.

- Você mente tão bem, Campanaro. Parabéns.

O sorriso dela sumiu, como se nunca tivesse existido antes.

- Talvez a Isadora que você conheceu ainda acreditasse em você, nas suas mentiras. Mas não mais, não esta Isadora.

Meneou negativamente e retirou a mão dele de seu braço, como se fosse alguma coisa que tivesse grudado em sua pele e a estivesse incomodando.

- Você nunca me amou, Campanaro. Eu amei você, mas você? Você não. Você se aproveitou da menina tola e ingênua que eu era. Atraído por uma beleza delicada e que suas mentiras facilmente a encantariam, alguém que ela poderia confiar.

Pegou sua água tônica com limão e deu um gole.

- Você nunca me forçou a nada, é verdade, eu caí porque...fui uma idiota. - Deu de ombros. - E me apaixonei por você e o amei de verdade. Como nunca havia amado ninguém. Você era o meu porto-seguro, aquele que eu queria ficar junto para sempre. Teria enfrentado céus e terras para ficar ao seu lado.

Os olhos dela foram ficando mais vermelhos por conta dos olhos marejados.

- Mas você não. Quando você me visitou naquela tarde, depois que eu descobri a verdade sobre minha família...

A voz dela foi ficando mais rouca e até mesmo sombria.

- Você sabia que minha alma estava devastada...Que meu mundo tinha virado de cabeça para baixo e eu só conseguia confiar em você. Porque eu sabia que você nunca seria capaz de mentir pra mim, porque você me amava, não é mesmo? - Os olhos dela ficaram marejados. - Eu estava disposta a enfrentar as consequencias de fugir com você, de começar em outro lugar, sem nada. Construir uma vida com você. E você se recorda a história que me contou? Porque eles iam caçar a sua mamãe...E inocentes morreriam...E eu tive que passar pelo meu orgulho, meus principios, partir a minha alma por você.

A lágrima escorreu pelo rosto dela, mas Isadora sorriu de novo, meneando negativamente.

- E a sua mãe estava mais segura do que poderia imaginar, não é mesmo? Bem ali do lado...Pelo menos a sua mãe de verdade.

Deixou o copo de lado e passou a mão pelo rosto, secando as lágrimas. Coçou a ponta do nariz e o encarou.

- Esse é o problema dos mentirosos, Campanaro. Você mentiu tanto e brincou tanto comigo que eu não consigo mais acreditar em você. - Pegou sua elegante carteira, pegando uma nota para pagar a bebida, mas não saiu. - Mas a verdade é que talvez eu devesse mesmo agradecer.

Lambeu de leve o canto dos lábios.

- Você matou a Isadora boba, aquela que era fruto das mentiras que você e Lorenzo construíram. E hoje...Eu sou aquela que deveria ter sido assim, desde sempre. Uma legitima Romazzini, uma De Lucca. Obrigada.

Colocou a nota sobre o balcão e começou a se afastar dele.
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Capítulo 6 - Roleta-Russa Empty Re: Capítulo 6 - Roleta-Russa

Mensagem por Romeo Campanaro Sáb Jan 16, 2016 12:38 pm

Era mesmo muito irônico que Romeo Campanaro estivesse perdidamente apaixonado pela única mulher do planeta com a capacidade de desprezá-lo. Romeo estava acostumado a ocupar o outro lado daquela história e a ser o cara que dispensava uma coleção de belas moças. Definitivamente, não era nada agradável estar na pele da pessoa desprezada.

Isadora tinha seu ponto de visto e Romeo não podia julgá-la. Melhor do que ninguém, Campanaro sabia que tinha mentido demais nos últimos meses e que a garota tinha todo o direito de não acreditar nele agora. Ainda assim, era ultrajante demais abrir o coração como ele acabara de fazer e não ser levado a sério.

Por mais que preferisse a antiga Isadora, Romeo continuava amando a mulher fria que o destino colocara na sua frente. Um dos piores defeitos de Campanaro era o orgulho, mas o rapaz simplesmente se esqueceu disso quando se colocou de pé e seguiu os passos de Isadora, mesmo depois de ser novamente desprezado. Era a última chance que os dois tinham, afinal.

- Eu fico feliz em saber que você finalmente abriu os olhos e percebeu que não vive num conto de fadas, Isadora. Mas é exatamente por isso que você deveria me entender agora. Eu menti porque precisava mentir, porque a “antiga” Isadora não estava pronta para a verdade. Os Romazzini criaram você dentro de uma falsa esfera de segurança, você não entendia nada do mundo real.

Os olhos de Romeo adquiriram um tom ainda mais escuro quando ele se colocou diante de Isadora, impedindo que ela seguisse seu caminho para longe dele.

- Eu, por outro lado, já nasci totalmente mergulhado nesta dura realidade. Sem mãe, ocupando uma posição de pouco prestígio na família do meu pai... É claro que sou um bom mentiroso, esta sempre foi a minha maior arma de defesa. Ninguém nunca me poupou de nada, Isadora. O único presente que a vida me deu de bom grado foi o seu amor, então não me julgue por não aceitar perder isso.

Por mais que quisesse tocá-la novamente, Campanaro conteve o impulso. Isadora já havia se esquivado de um toque, afinal. Romeo estava desesperado para esclarecer de uma vez por todas aquela situação, mas é claro que não pretendia forçar Isadora a nada.

- No fundo, você sabe que eu não menti sobre os meus sentimentos. É o seu orgulho que impede que você me perdoe por isso.

O discurso foi finalizado com Romeo cruzando os braços, como se este gesto pudesse garantir que ele não cederia ao desejo de puxar Isadora para junto do seu peito.

- Eu já fiz tudo o que podia fazer, Isadora. Já pedi desculpas, já reforcei os meus sentimentos e as razões para ter cometido os erros que cometi. Mesmo com todas as dificuldades impostas por você, eu te procurei dezenas de vezes, eu insisti nesta conversa.

O semblante de Campanaro se tornou ainda mais sério.

- Mas agora chega. É a última vez que eu te procuro, é a última vez que eu confesso o quão perdidamente grande é o meu amor por você. – Romeo deu um passo para trás, abrindo espaço para que Isadora continuasse o seu caminho – Se você me der as costas, acabou. Eu vou me dedicar a esquecer tudo o que vivemos e a ocupar o vazio que você deixou em mim. O seu “não” será definitivo desta vez, Isadora.
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Mensagem por Isadora Romazzini Sáb Jan 16, 2016 2:42 pm

Isadora o encarou de modo impaciente quando Romeo parou na frente dela de novo. Sempre soube que o rapaz era bastante determinado, mas sabia o quão orgulhoso ele era. Realmente a insistencia dele demonstrava que aquilo era importante para ele. No entanto, o orgulho, o ego e ocoração dela estavam muito magoados para ceder tão "facilmente". Ela mal conseguia encará-lo sem ter vontade de gritar ou chorar.

Respirou profundamente quando ele falou sobre seu mundo fantasioso. Não gostava deste termo, porque ela nunca pediu para que mentissem sobre absolutamente nada. E seu mundo jamais seria perfeito depois do que ela tinha vivido com a morte da mãe.

- Não entender sobre a podridão do seu mundo, não significa que eu não vivesse num mundo real. Você alguma vez realmente enxergou o mundo como eu via?

Foi uma pergunta retórica, porque Isadora meneou negativamente.

A jovem cerrou os olhos com o comentário de Romeo sobre viver num mundo de mentiras e a única coisa verdadeira ter sido o amor dela. Não o interrompeu, deixando que ele falasse o tanto que quisesse.

Nos minutos finais, ela se manteve imóvel, encarando-o.

- Você perdeu por culpa do seu modo de viver. Você sempre soube que eu não suporto mentiras e teve milhares de oportunidades de me contar a verdade, Campanaro. Mas você não fez! você botou mentira em cima de mentira!

Passou a mão pelo cabelo de novo.

- Eu teria lutado por você, Romeo. - O chamou pelo nome pela primeira vez e até chegou a olhar pra ele com carinho. - Mas agora eu já escolhi o meu lado. Assim como você optou por ficar na mansão ao invés de ir embora comigo, logo, optando pelo seu pai...Agora eu estou optando pela minha família. Porque você é uma persona non grata para a minha família.

Cruzou os braços.

- Já é a segunda vez que você me faz escolher o nosso futuro. E dessa vez, eu não vou escolher você. Com licença...

Passou por ele, sem esbarrar em seu ombro, nem nada do tipo. Ela, inclusive, se encolheu um pouco enquanto passava e seguia até onde Pietro tinha ido.
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Mensagem por Romeo Campanaro Sáb Jan 23, 2016 12:23 pm

- Acabou.

A voz de Romeo não soou alta, mas ecoou numa entonação firme e decidida. Aquela resposta não era dirigida apenas a Isadora, também era a confirmação que o próprio Romeo precisava digerir para conseguir seguir em frente. Talvez Isadora Romazzini fosse o presente mais belo que a vida já dera a Campanaro, mas havia acabado.

Por mais que amasse Isadora e que tivesse a certeza de que nenhuma outra mulher jamais ocuparia a lacuna deixada por ela, Romeo estava decidido a não insistir mais enquanto a herdeira dos Romazzini se afastava. Além de não ter o perfil de um homem que se humilha pela atenção de uma mulher, Romeo estava ciente de que já fizera tudo o que estava ao seu alcance. Isadora dissera não. E agora cabia a ele matar aquele amor abafado abaixo de toneladas de desprezo e orgulho.

E Campanaro estava certo de que conseguiria se livrar deste sentimento quando puxou o capacete deixado em cima do balcão e saiu do cassino com passos decididos. As cicatrizes deixadas por Isadora ainda doíam e continuariam a doer por um bom tempo. Mas Romeo conhecia bem o poder analgésico da mistura de álcool com duas ou três garotas fáceis e bonitas.

Mesmo não tendo participado da conversa, Pietro não precisou de explicações para entender o que acabara de acontecer com o amigo e a irmã. A expressão de ambos já dizia tudo. Isadora se recusara a perdoar o ex-namorado e Romeo não pretendia mais insistir. Era o fim.

- Vem. Você não pode ir embora sem conhecer o meu novo bebê...

Pietro surpreendeu quando decidiu não se meter na vida amorosa de Isadora. Era complicado para ele, que amava perdidamente a irmã, mas que também nutria por Romeo uma amizade e uma gratidão sinceras. Afinal, Campanaro foi o único a lhe estender a mão quando os Romazzini lhe viraram as costas. Aliás, Pietro ainda morava no apartamento do amigo enquanto esperava que os lucros da boate lhe permitissem alugar um lugar só seu.

Segurando a mão de Isadora, Pietro subiu as escadas e entrou com a irmã na área onde funcionava a boate. Tal como o restante do cassino, o lugar estava vazio e alguns poucos funcionários transitavam de um lado para o outro, cuidando dos últimos detalhes antes da chegada dos clientes.

A nova boate de Pietro era ampla, possuía uma decoração moderna e era tão confortável quanto a primeira. A diferença estava nos detalhes. Não havia nenhuma das desnecessárias extravagâncias que levaram Pietro à falência na primeira tentativa de abrir o próprio negócio. Também era notável que Pietro estava ali como um administrador responsável e não mais como o “dono da festa”.

- Ainda não está tudo pronto, mas eu estou cuidando pessoalmente dos detalhes.

Pietro se encostou num dos balcões e olhou ao redor por um momento, sem conseguir disfarçar a própria felicidade.

- Desta vez vai dar certo, gordinha. Estou com os pés no chão e o Agostini me deu ótimas dicas. – Pietro ficou mais sério – Não sei se ele está fazendo isso para provocar o seu pai, ou para atender a um pedido do Romeo ou da Antonella. Mas enfim, ele tem sido o apoio que eu nunca tive. Ele me tirou do fundo do poço e está me ajudando a realizar um sonho.

O rapaz completou depois de uma pequena pausa. Era evidente que Pietro estava comparando a sua atual situação à falta de apoio que vivia ao lado de Lorenzo e Enzo.

- O Cecilio, filho mais velho do Agostini, também tem me ajudado muito. Ele não leva muito jeito para os “negócios” da família, mas é excelente nas contas e está me ajudando a controlar os gastos.

O semblante de Pietro se contorceu numa pequena careta.

- Eu só não me dou muito bem com o Vincenzo. Ele tem uma personalidade mais difícil e talvez eu já esteja contaminado pela rivalidade que existe entre ele e Romeo. – aquela confissão foi feita num sussurro – Aquele ataque do aeroporto, no primeiro dia do Romeo no cargo de segurança... Vincenzo foi o mandante. E o Romeo tem certeza de que o maior alvo não era nenhum Romazzini.
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Mensagem por Isadora Romazzini Ter Jan 26, 2016 10:37 pm

Isadora estava de costas para Romeo quando ouviu a palavra que colocou um fim no relacionamento dos dois. Felizmente, ele não pode ver o olhar entristecido de Isadora, tampouco o esforço que ele precisou fazer para manter a cabeça erguida. Engoliu em seco e enquanto ele pegava o capacete, ela se dirigia até onde seu irmão estava.

Não foi fácil para ela dominar seus proprios instintos.

Ela amava Romeo, isso era fato. Não tinha como se desfazer de um sentimento tão intenso quanto aquele de uma hora para outra. No entanto, ela estava tão machucada, tão ferida com todas aquelas mentiras que ela não conseguia olhar para ele depositando a mesma confiança de outrora.

Isadora teria sido capaz de largar o seu mundo para ficar com Romeo.

Mas tudo o que ele soube fazer foi...mentir.

E isso ela não conseguia perdoar.

Tentou melhorar a cara de choro quando se aproximou de Pietro, esboçando um sorriso discreto e ajeitando uma mecha de cabelo. O irmão preferiu não citar a delicada cena que ele tinha presenciado e logo tratou de mostrar seu novo bebê.

- Claro que eu quero conhecer!

Ela respondeu com certo ânimo e seguiu com o irmão até o segundo andar, onde ficava a boate. Ficou verdadeiramente surpresa com a organização, afinal, essa era a grande novidade. Pietro sempre teve bom gosto para montar cenarios festivos, mas aquele tinha um toque e uma experiencia que faltava ao irmão. Os detalhes da administração também a impressionaram.

- Eu fico muito feliz por você, irmão! De verdade.

Pietro explicava sobre o Agostini e ela apenas meneou positivamente.

- Talvez seja provocação ou talvez seja, de fato, o inicio de uma longa aliança. Não me chame de boba! - Ela logo de adiantou - Eu andei estudando e ficando a par de nossa situação. Sinceramente não sei porque essa briga ainda existe. Tenho certeza que os dois lados lucrariam muito mais com uma união e poderiam expandir os horizontes, o sul da Italia é fraco, por exemplo.

Pietro a encarou com certo orgulho, mas logo deu um sorriso meio debochado e fez um carinho no rosto dela.

- Não existe por motivo de orgulho, Isa. E também porque, a tradição nos diz que só há duas formas de você criar as fusões.

- Quais seriam?

- Ou você domina os negócios e mata o Don para reinvindicar o titulo, coisa que ambas as familias fazem há decadas. Ou...você cria uma união chamada casamento.

Isadora arregalou os olhos com aquele comentário.

- E o Sr. Agostini só tem um filho legitimo solteiro: Vicenzo. E certamente não é alguém que nenhum de nós desejaria para você. Na verdade, o seu pai não a daria para nenhum deles, mas Vicenzo, em especial, não.

E quando Pietro explicou o relacionamento dele com os outros Agostini ela ficou com o coração apertado, desejando nunca ter que encontrar com aquele rapaz ou se submeter a um casamento de negócios.

- Além disso, o seu pai ia querer manter o sobrenome no final e ele não tem um filho solteiro para isso.

- Teria você...

- Nem morto.

Um silêncio desconfortável se fez presente, mas Isadora logo o abraçou de novo.

- Você pode negar sua familia, mas a verdade é que ainda te amamos muito. Sempre amaremos. Eu sinto muito pelo rumo que as coisas tomaram e espero que um dia possamos colocar tudo nos eixos de novo.

Pietro deu uma risadinha, fazendo um cafuné na irmã e logo os dois começaram a descer.

A porta do escritório de Benitto foi aberta. Antonella foi a primeira a sair e estava composta. O cabelo ainda estava preso da mesma forma e o batom ainda estava em seus lábios. Não havia nenhum sinal que denunciasse os amassos e beijos que os dois trocaram dentro daquele ambiente.

Eles eram espertos e Antonella entregou a ele o demaquilante certo para que ele continuasse impecável como sempre.

Isadora e Pietro pararam no fim da escada, observando.

- Obrigada por ter me recebido, Agostini.

- Não por isso, Antonella.

Ella virou-se para os dois e os olhos brilharam ao ver Pietro.

- Com licença...

E começou a se aproximar do rapaz. Ele estava tão diferente, mas ainda era um de seus bambinos. Parou diante dele.

- Olá, Pietro...Como você está...?
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Mensagem por Romeo Campanaro Qua Jan 27, 2016 5:15 am

Os músculos de Pietro se tornaram visivelmente mais tensos quando Antonella surgiu em seu campo de visão. Era fácil lidar com Isadora, que sempre fora sua irmã caçula, sempre fora a sua “gordinha”. Mas a mágoa ainda era grande demais para permitir que Pietro ficasse à vontade diante do restante da família.

Ironicamente, foi a presença do pior inimigo dos Romazzini que evitou que Antonella ficasse no vácuo. Benito se manteve afastado da cena, mas fixou a atenção em Pietro. O semblante dele deixou claro que o mafioso não queria que Antonella fosse ignorada ou maltratada pelo sobrinho. E Pietro não teve coragem de decepcionar o dono da única mão que fora erguida em sua direção para tirá-lo do fundo do poço.

- Bem. – a voz de Pietro soou meio sem emoção, mas ele pelo menos não foi ríspido – No momento, ocupado e bastante atrasado. A boate será aberta em menos de uma hora e ainda tenho que organizar algumas coisas.

As últimas palavras foram dirigidas mais a Isadora, como uma despedida. Embora fosse uma desculpa para se livrar “educadamente” de Antonella, era verdade que Pietro ainda tinha muito trabalho a fazer.

- Se quiser conhecer a boate de verdade, gordinha, me ligue com alguma antecedência que eu separo convites para você e seus amigos. Hugo já esteve aqui e parece que gostou. Enfim, eu preciso ir.

Pietro se despediu da irmã com um abraço e um carinhoso beijo na bochecha. Antonella recebeu apenas um aceno rápido de cabeça, mas no fundo era muito mais do que ela esperava.

A loira estava impecável, como de costume, mas Pietro não se deixou enganar por aquela reunião de “negócios”. Ainda mais quando passou perto de Agostini e notou um incômodo detalhe. Pietro poderia até deixar aquilo passar, mas, mais uma vez, preferiu poupar o mafioso de um embaraçoso problema em casa.

- Tem batom na sua orelha, Don Benito.

- É mesmo? – Agostini levou os dedos ao lóbulo da orelha e sorriu ao ver a pele marcada pelo batom cor de vinho de Antonella – É uma nova moda, não sabia?

- Não dá pra conversar agora, Agostini. Eu estou me concentrando fortemente para não imaginar como isso foi parar aí.

O sorriso de Benito se abriu sem nenhum constrangimento enquanto Pietro sacudia a cabeça e subia as escadas na direção da boate. Antonella não perdeu a pose, mas seu olhar refletia tristeza. Fora maravilhoso fazer as pazes com Agostini, mas o coração da loira não suportava mais tantos golpes. Romeo e Pietro a fatiavam por dentro com tanta frieza e indiferença.

- Vamos, Isadora? – um breve suspiro escapou dos lábios da loira – Acho que aquela velha dor de cabeça está voltando.

(...)

Definitivamente, aquele bar sujo não costumava receber clientes tão bem vestidos. Geralmente o estabelecimento só abrigava bêbados que gastavam suas últimas moedas em mais uma dose. Portanto, o homem atrás do balcão ficou boquiaberto quando viu os dois clientes que ocuparam uma mesa dos fundos naquele início de noite.

Nenhum dos dois quis beber nada, mas um bolinho de notas foi empurrado na direção do dono do bar para que ele não interrompesse mais a conversa. A quantia era superior ao lucro de uma semana inteira, então o homem não pensou duas vezes antes de se afastar da mesa e permitir que os clientes tivessem a desejada privacidade.

- Como você quer que seja feito? – o homem mais forte perguntou num fio de voz, indo direto ao assunto.

- Não me interessam os detalhes. Eu só quero que, desta vez, seja bem sucedido. Estou farto de fracassos!

Vincenzo Agostini estava sério e com os olhos perigosamente estreitados quando completou.

- Ele não morre fácil, isso já ficou provado. Por isso, sugiro que você se certifique de que ele REALMENTE está morto.

- Certo. E o que faço com o corpo?

- Fica ao seu critério. Eu só exijo que este corpo nunca apareça. Amarre numa âncora e jogue em alto mar. Ou fatie em pedaços e dê aos cães. Faça como preferir.

- E quanto ao pagamento?

- Metade agora, metade depois que terminar o serviço. – um sorriso maldoso surgiu nos lábios de Vincenzo – Além do privilégio de contar com a minha inteira confiança quando eu me tornar o novo Don Agostini. Eu não vou me esquecer que foi você que tirou o maldito Campanaro do meu caminho, meu amigo.
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